Esse caminho não é exatamente como uma estrada pavimentada com uma direção bem definida. Ele vai ser construído, dessa forma é preciso abrir trilhas, cortar árvores e galhos, cuidar-se ao encontrar com os animais selvagens e peçonhentos. Esse caminho também não é linear, uma linha reta: vai parecer mais com uma espiral, com idas e vindas nos mesmos lugares que precisam ser revisitados para lapidação, observação e aceitação do que é. Como fala o poeta Antonio Machado: "caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar".
É uma viagem para dentro de si mesmo, onde se compreende a importância do sentir, de se permitir se expressar, de conhecer os próprios limites para expandi-los. Também é preciso entrar em contato com aquelas partes e características que não gostamos em nós mesmos, encará-las e acolhê-las. Mas como podemos acolher se não gostamos dessas coisas que nos compõem? Elas são detestáveis, seria preferível jogá-las fora. Porém, quanto mais as negamos, mais força elas ganham. Vamos precisar reconhecer que essas partes pequenas e até mesmo odiosas de nós mesmos, querem que entendamos que elas fazem parte e tentam nos ajudar, mesmo que de uma maneira "torta".
Observe um "eu crítico", que sempre fala que você não é bom o suficiente, que lhe falta isso e aquilo, que você não pode, não deve, não vai conseguir, levando você a diálogos negativos consigo próprio. O que esse pequeno eu quer é te tornar melhor, fazer você reconhecer sua humanidade e limitações para se acolher e oferecer o seu melhor possível ao mundo. Para isso é preciso se esvaziar, ir além dessas vozes para que as vozes de seu eu superior e saudável possa se expressar e você ouvir "continue, vá adiante, você errou aqui, mas pode se perdoar, faça diferente agora, sem se culpar ou se condenar, faça o que precisa ser feito".
Integrar os vários "eus" que nos compõem faz parte dessa jornada, pois nesse caminho podemos perceber como estávamos afastados de aspectos essenciais para o nosso desenvolvimento como a criatividade, a abertura às possibilidades e o encontro com os outros e com o mundo. Apenas indo além de nós mesmos podemos sair do "ensimesmamento" e individualismo que nos sobrecarregam e produzem doenças por falta de conexão consigo, com os outros e com o mundo. Quando criamos essa conexão aprendemos a viver no mundo sem nos perder de nós mesmos e tendo nossas necessidades essenciais supridas. A psicoterapia pode nos apoiar nessa jornada que é nossa, própria, depende de nosso comprometimento com uma vida que valha a pena ser vivida.
Kommentare