Sobre as transformações
- Alyne Matos Nogueira
- 2 de jun. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 10 de jun. de 2024

Todos já ouviram a máxima que diz que tudo é impermanente, assim tudo está em movimento. Ou a clássica frase de Heráclito que diz que não se entra no mesmo rio duas vezes. Muda o rio e muda o homem.
Como nos fala a música de Lulu Santos, Como uma onda:
"Nada do que foi será
de novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa, tudo sempre passará
A vida vem em ondas como um mar
Num indo e vindo infinito
Tudo o que se vê não é
igual ao que a gente viu a um segundo
Tudo muda o tempo todo no mundo"
Que tudo muda é uma constante, o que permanece é a impermanência. É bom compreender isso racional e intelectualmente. Mas essa compreensão pode ir além e alcançar verdadeiramente o corpo e o espírito. Entender que tudo muda no corpo e espírito é sentir a mudança acontecendo: a cada segundo que passa, novas imagens se criam a minha frente, é um outro ar que inalo e exalo, há células mortas que a pouco estavam vivas.
Compreender verdadeiramente as transformações que o tempo cronos nos impõe é perceber a morte acontecendo a cada instante. Ninguém morre "do nada" como se costuma ou se convencionou dizer quando a pessoa tem um mal súbito de uma hora para outra, ou mesmo quando acontece um acidente ou algo parecido. Há doenças que aos poucos preparam a pessoa para a "grande despedida". Nesses casos, as pessoas já esperam que isso possa acontecer a qualquer momento, isso lhes dá uma nova oportunidade de viver os seus últimos dias mais em paz consigo e com o mundo. Mas isso pode acontecer a qualquer momento a qualquer pessoa saudável.
Será mesmo necessário um diagnóstico ou sentença de morte para que as pessoas reconheçam o valor de suas vidas e busquem viver mais em contato com seu eu verdadeiro e com o que realmente importa para elas? Essa é uma questão existencial a se fazer. Se hoje eu soubesse que tenho apenas uma semana de vida, o que eu faria? Se eu soubesse que hoje é meu último dia viva, o que eu precisaria viver nesse dia, do que e de quem eu precisaria me despedir? Que visita deixei de fazer, que pendência que adiei, que atitude que não tomei que não posso mais deixar de tomar? Com o quê ou quem preciso fazer as pazes?
Há quem diga que morrer em paz é morrer dormindo. Será? Importa mais o estado da mente e espírito do que a forma. Quem garante que quem morreu dormindo não estava tendo um pesadelo? A aparência pouco nos comunica. Por isso a importância de se comprometer com a própria vida e com quem viemos nos tornar. Todo mundo tem um presente para o mundo e tem um papel na vida. Todos importam. Por isso não é possível adiar a vida, não é possível deixar pra fazer depois porque não se sabe se vai existir depois, o que existe é o agora. Tudo que construímos agora nos leva a quem seremos no próximo instante. É bom que no no próximo instante sempre possamos ser melhor do que já fomos. Para isso é importante que estejamos cada vez mais no único momento possível, agora.
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